Secretaria de Estado de Saúde emite comunicado preventivo sobre febre maculosa no RJ
Após a confirmação nesta semana de quatro mortes causadas pela febre maculosa em São Paulo, referentes a um surto provocado pela doença em Campinas, a Secretaria de Estado de Saúde (SES- RJ) emitiu um comunicado especial nessa quinta-feira, 15.
A nota solicita que as pessoas tomem cuidados, caso visitem ou morem em áreas endêmicas (quando existe a presença constante ou habitual de uma doença ou do agente causador da infecção em determinada população).
As principais regiões sob alerta no Estado do Rio, são: Serrana, Noroeste e parte do Norte Fluminense.
De acordo com um levantamento realizado pela SES, de janeiro a 14 de junho deste ano, foram registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), 40 casos suspeitos de febre maculosa, oito deles foram confirmados e dois evoluíram para óbitos.
As duas mortes ocorreram no município de Itaperuna, no Noroeste do estado – em março e maio.
Ainda segundo a SES, em 2022, foram confirmados 33 casos de febre maculosa no RJ, 12 deles resultaram em mortes. Em 2021, foram 21 casos e nove mortes, e, em 2020, 11 registros e dois óbitos.
A Secretaria de Estado de Saúde alerta que, em caso de suspeita da doença, a pessoa deve procurar uma unidade de saúde para um diagnóstico rápido e preciso:
Quando o tratamento é iniciado nos primeiros cinco dias após o início da exposição, as chances de cura são muito elevadas. Mas, se realmente não for diagnosticada a doença, o risco de morte é muito grande, infelizmente.
Vale lembrar que a febre maculosa ocorre no período da sazonalidade, que começa justamente neste mês de junho e vai até setembro.
Preocupação com a doença em Friburgo
A cidade, além de ser uma área considerada pelo estado como endêmica, também tem muitas capivaras e outros animais que podem ser hospedeiros do carrapato-estrela.
A secretaria informou que detectou, neste ano, um caso suspeito, mas o resultado ainda não saiu. O governo municipal disse que acompanha a situação em Friburgo:
Quanto ao monitoramento, ele é contínuo, e a Subsecretaria de Vigilância em Saúde investiga os casos a partir da sua notificação. Em contrapartida, paralelo a isso, ações de orientações à população exposta a esses riscos são realizadas.
Febre maculosa
O médico Infectologista da Fundação Oswaldo Cruz, Julio Croda, explicou à reportagem que a febre maculosa é uma zoonose transmitida para o homem, através da picada do carrapato-estrela, desde que ele esteja infectado pela bactéria ‘Rickettsia’. Geralmente, os sintomas estão associados a uma síndrome febril hemorrágica:
Os principais sinais e sintomas são febre, dor no corpo, dor de cabeça, vômitos e, eventualmente, fenômenos hemorrágico – como manchas vermelhas na pele.
O especialista recomenda que, ao sentir os primeiros sintomas, o paciente busque uma unidade de atendimento mais próxima. O tratamento é feito com antibióticos específicos. Apesar dos sintomas serem os mesmos de outras doenças mais leves, a letalidade da febre maculosa é alta:
A febre maculosa tem uma letalidade muito elevada, em torno de 10% a 20%. Quando a gente compara com a letalidade da Covid, isso no início da pandemia, chegou a 3% a 5%, ou seja, a febre maculosa é de quatro a cinco vezes mais letal.
O médico também reforçou a importância do diagnóstico precoce:
É importante entender que o paciente tem que ser diagnosticado precocemente, principalmente nos primeiros cinco dias da doença, porque existe tratamento específico. Após isso, não existe um tratamento que seja tão eficaz. O tratamento é de suporte e aí a letalidade pode ser ainda maior, principalmente se esse paciente precisar de internação em ambiente hospitalar. A letalidade da doença chega a 75%.
O infectologista da Fundação Oswaldo Cruz lembrou ainda que nem todo carrapato-estrela está infectado com a bactéria, e que, neste momento, não há necessidade de alarde por parte da população fora de Campinas:
Para o resto do Brasil, é importante que a gente faça o monitoramento desses carrapatos através de inquéritos, para verificar ao longo do tempo a frequência de infecções e, aí sim, se for uma frequência extremamente elevada, adotar recomendações e medidas preventivas para a população de forma geral.
Como se prevenir?
O Ministério da Saúde indicou que, ao visitar uma região de maior risco, a pessoa utilize roupas claras, que ajudam a identificar mais rapidamente o carrapato, que tem a cor escura.
Também é importante usar calças e blusas com mangas compridas e utilizar botas. Se possível, segundo o ministério, deve-se prender a barra da calça à meia com fita adesiva.
Outra indicação é que a pessoa utilize repelentes, principalmente os que tenham como princípio ativo: DEET, IR3535 e Icaridina.
Em visita a áreas de risco, o ministério alerta para que as pessoas verifiquem se há presença de carrapatos sobre suas roupas ou pele, a cada duas ou três horas, removendo-os imediatamente para reduzir o risco de transmissão da doença.
Segundo o MS, é importante atentar-se inclusive para os ‘micuins’, a forma jovem do carrapato e que são mais difíceis de serem visualizados, mas também podem transmitir a doença.
Caso encontre carrapatos aderido ao corpo, é importante que a remoção seja feita com uma pinça, e não com os dedos. Também é importante não encostar objetos aquecidos ou agulhas para retirar o bicho.
Por fim, o MS informou que depois de remover o carrapato inteiro, deve-se lavar a área da mordida com álcool ou sabão e água. Quanto mais rápido for a retirada dos carrapatos do corpo, menor será o risco de contrair a doença.
Os possíveis hospedeiros
Com relação aos animais, a médica veterinária de pets não convencionais, Alice Silveira, disse ao Portal Multiplix que não só as capivaras, mas outros animais também podem servir de hospedeiros para o carrapato:
Cachorros, bovinos, coelhos, cabras, cotias, tamanduás, galinhas, tatus, perus, seriemas, roedores diversos, gatos, capivaras e cavalos que estejam em locais de área de vegetação e com a presença do carrapato adulto ou suas demais formas evolutivas, podem contrair o ectoparasita.
A veterinária esclareceu que a prevenção é o melhor remédio nesses casos:
Os animais domésticos podem contrair carrapatos, mesmo sem ter tido contato direto com outros bichos. A prevenção deve ser feita para que os animais não contraiam o carrapato. Isso pode ser feito através do uso de medicações contra ectoparasitas (orais ou tópicos), sempre respeitando a bula das medicações para obter melhores resultados. É importante evitar que os animais tenham contato com áreas de vegetação.
Vale ressaltar que a febre maculosa não é contraída de pessoa para pessoa, nem da pessoa para o animal. O carrapato deve permanecer na pele por um período de seis a dez horas para que ocorra a transmissão da doença, ainda segundo a veterinária.