Biblioteca Internacional pode inserir Nova Friburgo no cenário cultural mundial
O renascimento após a catástrofe climática de 2011. No mesmo lugar que ficou conhecido internacionalmente, através da divulgação de fotos e vídeos, como marco do maior desastre natural de nossa história, deverá ser erguida a Biblioteca Internacional Machado de Assis (Bima). A imagem da Praça do Suspiro, um dos cartões postais friburguenses, coberta de lama e destruída, poderá ganhar novamente divulgação internacional através do projeto, que tem como um dos objetivos trazer de volta o orgulho de ser friburguense, segundo seu idealizador, Pierre Moraes, secretário da Casa Civil da Prefeitura de Nova Friburgo.
“O município viveu muitos traumas desde o desastre da tempestade de 12 de janeiro de 2011, e até hoje encontra-se abatido. Um sintoma claro disso é que estamos abrindo mão do direito de pensarmos de maneira magnânima. Nova Friburgo precisa de um marco simbólico, um projeto proporcional aos sacrifícios, às dores e às ousadias que fizeram parte de nossa jornada, que relembre e valorize a nossa história, e que sintetize o tipo de contribuição que uma cidade tão multicultural tem a dar ao Brasil, aos nossos povos formadores, e a todos os povos que acreditem no sonho de uma convivência pacífica e colaborativa entre culturas diferentes”, explica Pierre.
O projeto, que já existe há alguns anos e vem sendo aprimorado, voltou a ser assunto recentemente, quando foi apresentado ao secretário Especial de Cultura do Governo Federal, Mário Frias, em recente viagem do prefeito Johnny Maycon e comitiva a Brasília, mas surgiram questionamentos a respeito da necessidade de um aparelho como esse, bem como lembranças a respeito das necessidades imediatas da população.
De acordo com Pierre, diante de qualquer projeto que seja mais ousado logo surgem questionamentos lembrando dos problemas cotidianos. “Importa lembrar que na mesma viagem visitamos diversos ministérios, secretarias e gabinetes de parlamentares, levamos projetos e demandas para todas as frentes da gestão municipal. E que os orçamentos da União e dos estados são divididos em várias pastas. A obtenção de recursos para incentivar a Cultura ou o Turismo, por exemplo, de modo algum comprometem os esforços para o aprimoramento das redes públicas de Saúde ou Educação. Ao contrário, qualquer questionamento sério irá reconhecer que tais avanços se refletem em aumento de arrecadação e na consequente melhoria da administração municipal como um todo, sem mencionar os impactos sobre a saúde mental ou a satisfação de viver numa cidade consciente a respeito da própria grandeza histórica e do potencial que possui. De toda crise surgem oportunidades, e Nova Friburgo precisa renascer a partir de tudo que viveu. Não podemos apenas seguir em frente, motivados pela necessidade gravitacional de quem meramente continua a existir”, enfatiza o Secretário da Casa Civil.
De acordo com Pierre, ao longo dos primeiros meses deste ano, o projeto conceitual foi submetido a um processo constante de refinamento e aprimoramento junto ao corpo técnico do Escritório de Gerenciamento de Convênios e Projetos (EGCP), e antes de ser apresentado ao Governo Federal já havia sido acolhido com grande entusiasmo pela Unesco – com quem têm sido mantidas tratativas avançadas para a consolidação de uma cooperação técnica internacional – e por uma representação da Organização das Nações Unidas (ONU).
Paralelamente, também já contava com o apoio da Secretaria estadual de Cultura, e em Brasília a resposta não foi diferente. “Após breve apresentação, o secretário Mário Frias surpreendeu a comitiva friburguense ao assumir o compromisso de financiar a construção da Bima através da Lei Rouanet e do Fundo Nacional de Cultura”, revelou ele.
Inspirações para o projeto
Para Pierre Moraes, a Bima só poderia ser construída em Nova Fribrugo, porque une a tradição e as origens internacionais de cidade à devida homenagem aos diversos expoentes culturais que nasceram aqui, ou tiveram suas vidas e obras marcadas de maneira decisiva por nossa cidade.
“Caso de Joaquim Nabuco, Heitor Villa-Lobos, Lygia Pape, Rui Barbosa, Alberto da Veiga Guignard, Casimiro de Abreu, Benito di Paula, Carlos Drummond de Andrade, e, claro, Machado de Assis, entre tantos outros. A escolha do nome de Machado, por sinal, não se dá apenas pelo peso de sua obra e pelo quanto foi afetada por Nova Friburgo, mas também porque ele sintetiza o próprio arco que se pretende replicar através da Biblioteca e do incentivo à leitura. Nascido pobre e mulato numa sociedade escravocrata, Machado era gago e epilético. E, contra todas as probabilidades, tornou-se o maior autor da literatura brasileira, “, esclareceu ele.
Além disso, segundo ele, a história friburguense é marcada, desde sua gênese, por virtudes como ousadia e superação. “Por trás daquele que foi o primeiro acordo internacional de imigração havia um sonho de qualidade de vida para aquela geração e as futuras, em nome do qual muitas pessoas se dispuseram a arriscar as próprias vidas. Nova Friburgo sempre foi uma cidade acolhedora, que recebeu emigrados de inúmeras nações em tempos distintos, e também uma cidade educadora, que recebeu alunos vindos de vários cantos do país. Um município que, por essas e outras características, marcou de maneira decisiva a trajetória de alguns dos personagens mais proeminentes da sociedade brasileira nos últimos dois séculos”, ressaltou ele.
O prédio da biblioteca
O projeto arquitetônico da Bima é suntuoso e remete ao renascimento e ao movimento que deve gerar na sociedade friburguense. Um prédio de forma elíptica, que se expande, através dos seus quatro andares, os superiores em forma de engrenagem. “O projeto conceitual foi enfaticamente elogiado por um dos principais engenheiros responsáveis pela construção do Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. A Bima será uma engrenagem para Nova Friburgo e referência cultural para o mundo”, disse Pierre.
Em seu primeiro piso, cercado por um espelho d’água em parte turvo e em parte claro, simbolizando o renascimento da cidade justamente numa das localidades mais atingidas pelas chuvas de janeiro de 2011, haverá a Sala Carlos Drummond de Andrade, um auditório, com aproximadamente 70 lugares, onde poderão ser ministradas aulas e palestras, sediar eventos de e-games, como forma de incrementar a receita e atrair jovens para um ambiente literário.
O segundo piso abrigará o Cineteatro Benito di Paula, com capacidade para aproximadamente 100 pessoas, onde ocorrerão apresentações musicais, teatrais e audiovisuais. No mesmo andar também terá uma loja de aparelho eletrônicos e souvenirs.
A Biblioteca Internacional ocupará o terceiro andar e contará com livros físicos e digitais nas línguas nativas dos 193 países que integram a Organização das Nações Unidas, bem como de seus dois observadores, sem esquecer dos idiomas indígenas brasileiros, dos livros em braile ou dos audiolivros. O projeto prevê piso em led, alternando trechos literários nos mais variados idiomas. Também no terceiro andar terá um espaço dedicado à imprensa escrita e uma réplica da prensa de Johannes Gutenberg. “A VOZ DA SERRA, inclusive, será um dos primeiros veículos a ser homenageado naquele espaço”, antecipa Pierre.
No quarto andar haverá uma espaço aberto para leitura e contemplação, margeado pelo Jardim das Primaveras, em homenagem a Casimiro de Abreu, onde haverá um café e serão servidas refeições executivas.
O projeto prevê ainda a supressão da rua que atualmente contorna a Praça do Suspiro, dando origem a um grande boulevard com capacidade estimada para acomodar 12 mil pessoas, uma vez que a Bima se prestará também a apresentações de naturezas diversas. A necessidade de vagas para estacionamento será suprida com a construção de um edifício garagem em localidade próxima, cuja receita será parcialmente direcionada ao fundo que reunirá os recursos necessários à manutenção da Bima.
“Além disso, ela se desdobrará, no futuro, em pequenas bibliotecas distritais voltadas a promover o hábito da leitura em todas as localidades friburguenses,” explicou Pierre.
Espaço para atrações dos povos colonizadores
O projeto, além das características estruturais da Bima, também conta com as ações culturais que deverão ser desenvolvidas, não só no local, mas que se estenderá por toda a cidade. De acordo com Pierre, será um resgate na história da colonização de Nova Friburgo, com um calendário em que a cada mês um dos dez países colonizadores será homenageado. O mês de maio será reservado ao aniversário da cidade e dezembro às comemorações natalinas. “E, claro, tão importante quanto as estruturas físicas são os impactos sobre a rotina da cidade, com destaque para a criação de um calendário anual de eventos relacionado aos povos formadores que envolverá todo o trade turístico, restaurantes, a comunidade artística incluindo as bandas centenárias, e também as escolas das redes pública e particular”, disse ele.
Estágio atual do projeto
De acordo com Pierre, a próxima etapa, que deve levar alguns meses até que seja concluída. Será a elaboração de um projeto executivo detalhado, que considere todas as especificidades da biblioteca e torne sua construção mais rápida e eficiente. “Importante destacar que a Bima será pública mas terá personalidade jurídica privada. Sua gestão se dará através de uma fundação e terá um fundo próprio, a fim de assegurar a transparência e a autonomia necessárias, evitando que sua continuidade fique condicionada à boa vontade de administrações futuras. Isso é muito importante, porque a biblioteca não é um projeto de governo, mas de Estado”, disse ele, acrescentando que, “os projetos de leis necessários ao andamento do projeto serão remetidos à Câmara Municipal no tempo devido. A ideia da Bima vem ganhando apoio e materialidade a cada dia, e estamos à disposição dos mais variados setores da sociedade, bem como da Câmara Municipal, para o agendamento de apresentações detalhadas do projeto sempre que se fizerem necessárias”, completou.