Cyberbullying: perfis de redes sociais usados para difamar e caluniar adolescentes
As redes sociais são muito úteis para o aprendizado, lazer e para receber notícias. Mas, nem todos as utilizam para esse fim. Vários perfis das redes sociais, identificados como “Explana” e diversos sufixos, estão sendo usados por adolescentes, não só em Nova Friburgo, mas em todo o Brasil, para difamar e caluniar crianças e jovens.
Na cidade, já existem vários perfis com esse intuito no Instagram. Os administradores recebem as mensagens dos seguidores e as publicam na íntegra, mantendo sob sigilo quem as enviou. Obviamente, os responsáveis pelos perfis não são conhecidos. Nas bios desses perfis, onde estão descritas as características das páginas, há sempre a mensagem: “Aceitamos todas as fofocas”; “Falem bem ou falem mal”, “Sigilo total”, “Manda no privado que a gente posta”.
A mãe de uma adolescente, de 13 anos, que preferiu não se identificar, disse que ficou chocada ao ser informada pela filha da publicação que fizeram sobre ela num desses perfis. “Eu tive que insistir para que ela entrasse em contato com o administrador para retirar a publicação, já que não me deixou fazê-lo. Ela me explicou que quando isso acontece ou quando os pais entram em contato, é chamado de filhinho da mamãe. Ou seja, o bullying continua sendo cometido”, contou a mãe.
Uma das publicações denegrindo a imagem da filha foi retirada, mas a outra não, mesmo a mãe comentando no perfil que iria procurar a delegacia de polícia. “E assim fiz. Printei todas as publicações e fiz um registro de ocorrência para que o responsável pela página seja responsabilizado pelo que publica. Ao ver o feed desse perfil, fiquei horrorizada com outras publicações, expondo, principalmente as meninas, com expressões chulas e ofensas que podem trazer consequências sérias para as vítimas”, relatou a mãe da adolescente.
Consequências legais
De acordo com o delegado da 151ª DP, de Nova Friburgo, Henrique Pessôa, apesar dos adolescentes imaginarem que a internet não tem qualquer tipo de regulação, isso não procede e, na verdade, as pessoas produzem provas contra si mesmas. “Na medida em que comenta ou repassa as mensagens, portanto, não é apenas você postando, mas também difundindo, existe a responsabilização do adolescente ou do adulto. E é muito fácil chegar até o computador de onde a mensagem foi remetida. Nós temos a regulação da internet, com as suas consequências e, sobretudo, com a produção de provas pelo próprio autor do fato”, explicou o delegado.
Legalmente, as penalidades podem ser deferidas aos menores e aos seus responsáveis. “O adolescente pode ser enquadrado no fato análogo aos crimes de calúnia, injúria ou difamação e pode ser punido até com uma medida socioeducativa de internação em uma unidade do Degase. Já os responsáveis podem ser processados, com ações indenizatórias por danos morais”, explicou Henrique Pessôa.
O delegado lembra ainda que esse tipo de atitude pode ainda levar a outras consequências. “Na medida em que se propagam as fake news a pessoa perde totalmente o controle da publicação, que pode ser repassada infinitamente podendo gerar agressão, linchamento… Isso, além do dano psicológico que causa na vítima”, observa.
É importante também que a vítima ou o responsável, no caso de menor de idade, faça o registro de ocorrência na Polícia Civil e tenha printadas as telas, com as ofensas e os comentários.
Consequências emocionais
As vítimas desses tipos de publicações podem ter diversas consequências emocionais. “A exposição pode gerar problemas, como ansiedade, depressão, irritabilidade, isolamento, raiva, distanciamento, estresse pós-traumático, vergonha, baixa autoestima, insegurança, ideação suicida, entre outros”, enumera a psicóloga e escritora, Cínthia Lima Ramos.
Mas, o que leva adolescentes a criarem esses perfis falsos para denegrir as imagens dos outros? Cínthia explica que “estamos vivendo em uma sociedade que não consegue olhar para dentro de si mesma, o caos interno está alto e as pessoas estão se expondo umas às outras para se sentirem melhores. Alguns desses perfis fakes escondem patologias, dupla personalidade, baixa autoestima, negação de si mesmo, busca por ser admirado e aceito mesmo que de forma anônima, entre tantas outras possibilidades, porém não podemos afirmar que toda pessoa que faz um perfil fake possa ter algo aqui citado, isso depende da construção de cada indivíduo e do seu contexto atual”, comenta a psicóloga.
Cínthia lembra ainda que os pais precisam voltar a estar abertos e disponíveis para escutar, acolher e dar limites aos filhos. “Se estamos vendo crianças e adolescentes reinando é porque existem “pais” permitindo. A fase da adolescência requer cuidados e, se os pais estão delegando isso para a internet, instituições ou terceiros, o caminho precisa ser revisado. Os filhos precisam ser orientados pelos responsáveis. Se você é negligente com seu filho, pode acreditar que você estará abrindo as portas para as consequências. Comecem a se desconectar e aprendam a gastar tempo olhando nos olhos. Os filhos querem pais e não adultos que só comprem presentes. As coisas se desfazem e a nossa memória, que está ligada ao afeto, permanece”, explica.
A psicóloga finaliza com um convite à reflexão: “Independente da sua fé ou religião, convido você a refletir comigo. O nono mandamento diz: “Não dirás falso testemunho.” Aqui fica claro que precisamos honrar as nossas palavras, preservar a verdade. Devemos amar o próximo como amamos a nós mesmos. Precisamos tratar o outro como gostaríamos de ser tratados e ofender não é cuidar. Que os pais voltem a gastar tempo amando seus filhos, para que no futuro possamos ter homens e mulheres que saibam respeitar o outro. Os adolescentes seguem pedindo socorro. Eles estão utilizando infinitos meios para chamar atenção. Ajuste as suas lentes e perceba o que está acontecendo em nossa sociedade, o cyberbullying tem aumentado dia após dia. Os pais não podem continuar sendo omissos. Que filhos vocês estão deixando para o futuro?”