De Nova Friburgo para Paris
Quando criança, qual profissão você gostaria de ter? Ao crescer, conseguiu realizar esse sonho? A Renata Estefan, de Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio, sonhava em ser estilista. Hoje, aos 32 anos, ela é a única estilista brasileira na Louis Vuitton, em Paris.
A relação com a moda começou ainda pequena, Renata contou que sempre amou desenhar e teve o incentivo da mãe. Quando pequena, sempre via fotos da tataravó, bisavó e avó muito elegantes e isso a inspirou.
“Elas eram referência em Nova Friburgo. A minha tia-avó também, eles contam história que todo mundo a esperava sair da igreja para ver os looks que usava. Eram mulheres muito chiques, muito bem vestidas que fizeram parte da minha família e aquilo me deixava muito fascinada. Elas se vestiam de uma forma aristocrática, muito refinada, muito chique mesmo. Eu ficava apaixonada e comecei a desenhar peças, minha mãe sempre me incentivando e isso foi fortalecendo toda a minha paixão”, conta.
Todos que conheciam Renata já sabiam do seu desejo e paixão pela moda, inclusive os professores. Ela lembra que quando acabava as provas, desenhava croquis nas folhas.
“Eu não era boa em matéria exata e estava indo muito mal em física no meu último ano, precisava de 60 para passar e achei que não ia conseguir. Eu deixei uma mensagem para o meu professor atrás da prova: ‘eu admiro muito física e o seu conhecimento, gostaria apenas de ressaltar que eu não tenho o seu talento pra física, igual eu tenho para moda. O meu sonho é ser estilista, por favor não me repita de ano'”, relembra.
Ela não tirou 60 na prova, mas o professor a aprovou na matéria e colocou uma carinha piscando.
Começo dos estudos
Após concluir o Ensino Médio, a estilista fez uma faculdade voltada para a indústria técnica da moda. Quando o curso terminou, o desejo era fazer mestrado na Central Saint Martins, em Londres.
“Meu sonho era estudar com a Louise Wilson, ela era conhecida por ser uma das professoras mais brilhantes, era um monstra da indústria da moda. Ela só aceitava no curso pessoas que considerava de um o potencial maravilhoso”, conta.
No seu ultimo ano de pós-graduação na universidade, Renata teve um encontro marcante com Louise. Ela estava em uma entrevista e Louise elogiou o seu portfólio.
“‘Seu trabalho é lindo, muito lindo, eu quero você no curso, te espero. Foi uma das últimas coisas que ouvi dela. Ela faleceu logo depois, mas guardo isso comigo. Quando eu penso ‘será que eu sou boa? será que eu faço isso direito?’. Eu lembro que ela reconheceu o meu trabalho”, conta.
Infelizmente Renata não conseguiu fazer mestrado com Louise, pois a professora morreu em 2014. A estilista agradece ter tido a oportunidade de fazer tanto a pós, como o mestrado em Londres, pois isso te deu a oportunidade de competir com os estudantes da Europa.
Ida para Paris e começo na Louis Vuitton
Após o mestrado, ela voltou para o Brasil e começou a dar aula por meio do seu portfólio, ela criou uma palestra que apresentava para cerca de 300 pessoas em hotéis no Rio. Em uma delas, conheceu um empresário que a convidou para Paris e trabalhar na marca dele. Ela ficou por seis meses na empresa e depois trabalhou em uma outra, também por seis meses.
Ela ingressou em uma outra empresa, onde fez estágio e foi convidada para ser designer, ficou por um ano na função e depois foi coordenadora da marca, até ser convidada para trabalhar na Louis.
Na marca, ela faz parte da linha “Ícone” e conta ser a mais reputada da empresa, pois é a linha com as peças mais caras e passam de geração a geração: as jaquetas, as calças bem cortadas, os vestidos tubinhos com a logo.
O trabalho no local é muito intenso, a estilista conta chegar todos os dias às 9h30, mas em alguns dias só sair meia noite, outros 21h. Quando as coisas estão fluindo bem, ela consegue sair às 19h.
Apesar de intenso, ela diz que é apaixonante e só ver coisas lindas, dos tecidos aos bordados.
“Tem hora que to dentro de um cômodo com 30 pessoas, olho para elas e são as 30 melhores no mundo naquilo que fazem. É impressionante ver as discussões, os argumentos, como se portam. Eu faço muita pesquisa, desenhos e participo de todas as provas de roupa junto com a Jane Whitfield [braço direito do diretor da marca]”, conta.
‘Não desista’
Apesar dos obstáculos que terá pela frente, Renata aconselha que não é preciso achar uma resposta de como passar por todos de uma vez só, é ir passando um por um, a medida que chega às dificuldades. Ela afirma que só não vai conseguir, quem desistir.
“Pense apenas em fazer o portfólio, é o principal método de mostrar suas habilidades, vá atrás de como fazer um. Esse é o primeiro passo. O resto dos obstáculos, as portas vão se abrindo conforme for trabalhando e dando duro. Meu conselho é foque no portfólio e não escute as pessoas que vão querer te fazer desistir. E lembre-se, que vai ter pouco mas vai ter pessoas que vão te dá a mão, e elas vão ser fundamentais”, aconselha.
G1