Investimentos em saneamento básico impulsionam Turismo na Região dos Lagos
O saneamento básico é direito de qualquer cidadão previsto na Lei nº. 11.445/2007. Porém, cerca de 100 milhões de pessoas, o equivalente a quase 47% da população, ainda não recebem o serviço de forma adequada. Enquanto isso, em 2020, o país assinou o novo Marco Legal do Saneamento, com o objetivo de universalizar a coleta de esgoto e abastecimento de água para todos os brasileiros, até 2033. Segundo o Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento (SNIS), estima-se que, no Estado do Rio de Janeiro, 35% dos fluminenses não têm acesso à rede de esgoto, questão que impacta diretamente vários setores, como Saúde, Economia e Turismo.
Na Região dos Lagos, os investimentos nas últimas duas décadas, por parte da concessionária Prolagos, despontam boas perspectivas para moradores e empresários. A região, privilegiada por sua natureza diversificada e clima ameno , detém a maior laguna hipersalina em estado permanente do mundo, com 220 km² de extensão. Popularmente chamada de Lagoa de Araruama, o corpo hídrico perpassa seis dos nove municípios que compõem a Região dos Lagos.
A laguna se conecta com o mar pelo canal do Itajuru, em Cabo Frio, e é considerada um dos cartões postais mais belos do Estado do Rio. Sua história é marcada por momentos de abundância e de crise. Uma das primeiras atividades econômicas a serem desenvolvidas em seu entorno foi a pesca artesanal, seguida por séculos da exploração salineira. Atividade essa que ainda resiste com a Refinaria Nacional de Sal responsável por abastecer boa parte do mercado brasileiro.
No fim dos anos 1950, houve a instalação da extinta Cia. Nacional de Álcalis, em Arraial do Cabo, e a extração de conchas da lagoa para uso na indústria química acelerou o processo de degradação ambiental, devido a urbanização desordenada próxima às áreas da lagoa, na finalidade de moradia para os trabalhadores que chegavam à região. Posteriormente, a situação se agravou com a inauguração da ponte Rio-Niterói, nos idos dos anos 1970, provocando o boom do turismo de veraneio.
Com o acesso facilitado pela ponte e as melhorias nas rodovias que ligam a capital à Região dos Lagos, as cidades sentiram as consequências da falta de infraestrutura no decorrer do tempo, especialmente no período de alta temporada, época em que a população praticamente triplica.
“Pouco a pouco, a lagoa começou a apresentar sinais de degradação, com quedas significativas no pescado, mau cheiro, alteração na coloração da água, além de problemas como o assoreamento, causados pelo despejo do esgoto in natura no ecossistema”, conforme explica o Biólogo e presidente do Comitê de Bacia Hidrográfica Lagos São João, Eduardo Pimenta.
O estágio mais crítico da laguna ocorreu por volta da década de 1990, até que em 1998 o próprio Estado identificou as dificuldades dos municípios da Região dos Lagos do Rio se desenvolverem sem que houvesse de fato um sistema apropriado para acompanhar a expansão econômica e social da localidade.
“A Região dos Lagos sempre teve vocação para o Turismo. No entanto, antes da concessão do gerenciamento do saneamento básico, as cidades tiveram suas capacidades tolhidas pela falta de recursos que atendessem a realidade dos moradores e visitantes. A partir do momento em que a Prolagos iniciou as operações, verificou-se um salto na demanda por meios de hospedagem e serviços turísticos nas regiões em torno da Laguna de Araruama. Locais como os distritos, de Figueira e Monte Alto, por exemplo, são procurados por conta dos exuberantes cenários naturais, sobretudo, pela despoluição da lagoa, que hoje tem grande movimento, principalmente pelos amantes dos esportes náuticos”, ressalta Marco Simas, Secretário de Turismo de Arraial do Cabo.
“É notória a diferença na qualidade da água na laguna. Tem uma limpidez que há muito não se via, algo que me deixa feliz enquanto cidadão e desportista praticante de iatismo, comenta Anderson Wilnes, médico e coordenador da Escola Social de Vela Meninos do Vento, enfatizando que diversas modalidades são praticadas na luguna, que foi palco de eventos como o Campeonato Mundial de Windsurf, travessias de natação, festivais de vela, entre outras atividades.
INVESTIMENTOS – Em 23 anos de atuação nas cidades de Arraial do Cabo, Cabo Frio, Armação dos Búzios, São Pedro da Aldeia e Iguaba Grande, a Prolagos empregou aproximadamente R$ 1,4 bilhão em saneamento, mais que o dobro da média nacional por habitante. Dados do SNIS apontam que, no ano de 2001, apenas 0,8% dos habitantes da região eram assistidos. Em 2015, o índice passou para 60,07%. Agora, de acordo com a empresa, o esgoto coletado e tratado já representa 80%.
No início deste ano, a Prolagos lançou o minidocumentário “A lagoa vive”, um vídeo de 6 minutos que retrata de forma objetiva os efeitos gerados após efetivação do saneamento básico e de ações em prol da recuperação ambiental da laguna. Entre eles, a implantação de cinturões para reter o esgoto evitando que chegue in natura ao sistema lagunar. Além disso, a Prolagos apoia pesquisas que aferem métodos a serem adotados nos cuidados com a laguna.
Recentemente foram anunciados R$ 73,8 milhões em obras de saneamento, nos próximos cinco anos, somente em Arraial do Cabo. O projeto prevê ampliação na rede de abastecimento de água e aperfeiçoamento no sistema de esgotamento sanitário, o que certamente irá contribuir para a economia local, visto que Arraial constantemente é destaque nos rankings de destinos mais desejados pelos turistas, obtendo inclusive a 2ª e 3ª colocação na lista das 25 melhores praias do mundo, pelo Travellers’ Choice, premiação anual do site de viagens TripAdvisor.
MOVIMENTAÇÃO TURÍSTICA E ECONÔMICA – O último levantamento do Mapa do Turismo 2019-2021, divulgado pelo Governo Federal, sugere informações relevantes sobre o setor na Costa do Sol, a qual a Região dos Lagos pertence. Foram detectados ao menos 499 meios de hospedagem e alimentação, e gerados 5.319 empregos, com R$ 59.295.839,00 de arrecadação em impostos.
Das 2.694 cidades analisadas, Cabo Frio e Armação dos Búzios são classificadas na categoria A. De acordo com o Conselho de Turismo da Região da Costa do Sol (Condetur), os critérios levam em consideração o número de visitantes, a quantidade e qualidade das hospedagens, as atrações turísticas, a participação em conselhos de turismo, registros no Cadastro de Prestadores de Serviços Turísticos (Cadastur), entre outros parâmetros, que somados revelam o alto desempenho da economia turística.
Mesmo durante a pandemia e com os protocolos de restrições por causa da covid-19, a Região dos Lagos continuou registrando altas taxas no Turismo. Dados da Associação de Hotéis do Estado (ABIH-RJ), na véspera do réveillon de 2021, Búzios alcançou 88,75% de reservas em hotéis e pousadas, enquanto Arraial do Cabo ocupou 90% dos leitos disponíveis.
“Uma boa infraestrutura é fundamental para os destinos turísticos, quanto melhores os recursos ofertados aos cidadãos e seus visitantes, mais atraente e competitiva se torna a cidade. O saneamento básico está diretamente ligado a esse fator”, afirma Ana Cláudia Melo Vieira, Coordenadora Regional do Sebrae/RJ.
Ao todo, a concessionária planeja aplicar R$ 1 bilhão no sistema de distribuição de água, coleta e tratamento de esgoto dos municípios de abrangência. Para Cabo Frio, a projeção é injetar R$ 140 milhões na construção de 11 estações elevatórias, 135 quilômetros de rede coletoras de esgoto, entre outras intervenções.
Na vizinha, São Pedro da Aldeia, 12 bairros serão beneficiados com o novo sistema que substituirá o modelo de coleta em tempo seco. Com a renovação, o município passará a tratar 256 litros por segundo.Comerciantes e empresários apostam nessas medidas para atraírem os turistas e impulsionar a economia.
“O saneamento impacta 100% nos negócios na orla da lagoa. Tendo em vista, que a maioria da população vive da pesca artesanal. Há uns quatro anos, a laguna estava bem agredida e agora ela tem voltado a ficar com a água cristalina. Essa diferença chama bastante atenção dos turistas”, diz, orgulhosa, Graziella do Nascimento, proprietária do quiosque Nosso Cantinho, localizado na Praia do Sudoeste, em São Pedro da Aldeia.
Para a empreendedora, a laguna é um santuário que deve ser preservado. “Eu e os demais donos de quiosque lutamos pela lagoa. Todos os dias recolhemos lixo e qualquer tipo de material que possa causar danos a ela. Cuidamos por amor e também porque dela provém o sustento de quase 300 famílias”, reforça.
A safra recorde dos pescados confirma. A Prolagos apurou que em fevereiro foram capturados mais de 100 toneladas de peixes, com a reincidência significativa de Carapeba e Perumbeba, espécies que estavam desaparecendo da lagoa nos anos 2000, só a Colônia Z-29, de Iguaba Grande pescou mais de 50 toneladas.
A presidente do Convention Visitors & Bureau de Cabo Frio, Maria Inês Oliveros, avalia que os investimentos nos serviços de água e esgoto foram determinantes para o desenvolvimento econômico e turístico da região.
“No passado, quando chegava a alta temporada era um verdadeiro caos. Não havia água e nenhuma coleta de esgoto. O comércio, os meios de hospedagem e a gastronomia ficavam reféns de caminhões pipa, que sequer sabíamos a procedência do produto. Antes de virem para cá, os turistas precisavam ligar para saber se havia água na cidade. Mas isso ficou para trás e hoje temos a tranquilidade de trabalhar, gerar renda e emprego no município”, declarou, Maria Inês.
Os reflexos dos gastos em saneamento básico também atingem o balneário mais charmoso da região. Eleito pelo estudo de Demanda Turística Internacional, do Ministério do Turismo (MTur), como o 5º destino mais visitado por estrangeiros no Brasil, Búzios demonstra avanços. “A verdade é que Região dos Lagos não seria a potência que é no Turismo se não fosse a privatização do sistema de abastecimento de água e tratamento de esgoto. Saneamento é prioridade absoluta para qualquer rota turística. Claro, temos coisas a aprimorar, mas evoluímos nesse quesito, inclusive, a duplicação da estação de tratamento da cidade foi concretizada há poucos anos”, frisou Thomas Weber, Presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Armação dos Búzios.
Sem dúvidas, medidas de saneamento básico são a garantia de um futuro próspero, com mais qualidade de vida para a população, fortalecimento econômico e uma sociedade mais sustentável. Esses são os preceitos que vislumbram a Região dos Lagos.
Folha dos Lagos