Onça-parda é flagrada em Teresópolis
Os moradores de um condomínio de casas no bairro de Quebra Frascos, em Teresópolis, na Região Serrana do Rio, receberam uma visita especial na madrugada da última terça-feira (14). Ninguém viu presencialmente, mas uma onça-parda foi flagrada por câmeras de monitoramento na portaria do residencial, às 4h12. Nas imagens é possível ver que depois de dar uma voltinha no condomínio, o felino pula em direção ao sítio vizinho à propriedade, localizada na Estrada Francisco Smolka.
A visita, no entanto, não assustou moradores. Renata Gouveia, presidente da Associação de Moradores e Amigos do Quebra Frascos e moradora do condomínio, disse que é motivo de celebração entre os vizinhos quando ficam sabendo de visita de onça, raposa e outros animais silvestres por lá. Segundo ela, tinha gente na guarita do condomínio na hora que a onça passou, mas eles viram mesmo foi pelas imagens da câmera.
– Não é algo que nunca aconteceu na área. O bairro é cercado pela floresta, o pessoal já está acostumado. A gente que mora aqui vibra, fica feliz da vida quando tem esses animais. É bacana. O Parque Nacional Serra dos Órgãos (que cerca o bairro) tem um guia de convivência com animais silvestres, como reagir, o que fazer. Então, foi tudo tranquilo, nada assustador – conta Renata, que teme a diminuição da presença animal com as ameaças de desmatamento na região por causa da especulação imobiliária.
– O bacana de morar nesse bairro é ter essa aproximação com a natureza, mas a gente está preocupado, porque, nos últimos anos, a região tem sido alvo de muita especulação imobiliária. O bairro é uma zona de amortecimento dos parques naturais, funciona como um corredor ecológico. Ainda tem fragmentos extensos de floresta preservados. Os moradores mais antigos chegam a chorar com a possibilidade de desmatamento – relata.
Habitat natural
O biólogo Ricardo Mello, que trabalha no Parque Natural Montanhas de Teresópolis e desenvolve pesquisas sobre os grandes felinos da região, foi acionado por um colega do Parque Nacional Serra dos Órgãos (Parnaso) sobre a aparição no condomínio e confirmou que não é novidade para o município a presença da onça-parda.
– Teresópolis tem um diferencial porque tem três Unidades de Conservação no seu entorno, que formam um cinturão: o Parque Estadual dos Três Picos, o Parque Natural Municipal Montanhas de Teresopolis e o Parque Nacional Serra dos Órgãos. Esse condomínio fica muito próximo da floresta e provavelmente a onça passou pela borda e achou um atalho no caminho para chegar a uma área de mata – explica o biólogo.
A onça-parda é um animal que percorre longas distâncias e, por esse motivo, arrisca mais a aproximação em meios rurais e urbanos que ficam entre fragmentos de floresta, conforme explica Ricardo.
– Ela precisa se deslocar para alcançar áreas mais estáveis para se reproduzir e se alimentar. Claro que a onça-parda evita esse contato, mas acaba se aproximando das áreas urbanas. Por isso que tem, inclusive, muitos relatos de atropelamento em estradas – exemplifica o biólogo.
O maior aparecimento de indivíduos na região, no entanto, não significa que aumentou a população do animal, segundo Ricardo, mas sim os registros.
– As câmeras estão mais acessíveis, as chamadas câmeras “trap”, que são as armadilhas fotográficas, têm estado mais presentes nas unidades de conservação, nos condomínios e casas, facilitando o registro – informa o pesquisador.
Ainda assim, ver o animal circulando por aí no estado do Rio é, segundo Ricardo, um indicativo de qualidade do ambiente que deve ser celebrado.
– Ter um animal desses no estado do Rio é mais um ponto positivo, porque ele é um bio indicador. Se a gente tem uma onça-parda que está no topo da cadeia alimentar, significa que a toda a cadeia que está abaixo dela está saudável. É um indício muito bom de que tem representantes de uma fauna que está bem e um ecossistema saudável – comemora o biólogo.
O que fazer se encontrar uma onça-parda
Caso esteja andando numa trilha, em um sítio ou em um condomínio como esse da reportagem e acabe esbarrando com uma onça-parda, a recomendação é manter a calma e conter o impulso de virar de costas e sair correndo ou de jogar coisas no animal.
– É importante manter a calma, não fazer nada e deixá-la ir embora. Caso esteja a uma distância curta e deseje espantar o animal, levante os braços e grite alto e firme, porque assim vai assustar a onça. Se ela está longe, só observa. Se caminhar na sua direção, evite virar de costas e sair correndo. O ideal é manter olhar fixo na onça e andar para trás devagar. Se ficar parado e não fizer nada, ela não ataca, ela segue o caminho dela – orienta Ricardo.
De acordo com o biólogo, esses animais costumam perceber a nossa presença bem antes e tendem a evitar contato com o ser humano e seguir caminho. Os registros de ataques são raros – ele relatou existir três casos no Brasil, sendo um na Amazônia.
– Só para ter uma comparação, eu trabalho com onça desde 2019. Eu vou nas áreas que já tiveram registro, eu procuro a onça, vejo por onde ela passa nas câmeras e eu nunca achei uma. E olha que eu procuro. É realmente uma sorte grande encontrar um animal desse – disse.
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